quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Cinema avant-garde


É geralmente o adjectivo usado para definir um movimento artístico que surge de trabalhos experimentais ou inovadores, e, neste caso, particularmente da sétima arte: o cinema.

Alejandro Jodorowsky é uma das caras mais importantes do avant-garde. O multifacetado realizador chileno desde sempre tentou incutir nos seus trabalhos – que vão desde banda desenhada a filmes – a ideia de um mundo diferente, submergido pelo surrealismo, sendo este último diferente do surrealismo presente nos filmes de Lynch ou Cronemberg. Mas, sim, um surrealismo provocador e aclamado de herege, violento, corrosivo, marcado por uma mistura de misticismo com as emoções mais profundas do ser humano – sejam neuroses ou amor.

Os resultados do trabalho de Jodorowsky são um conjunto de filmes absolutamente distintos daquilo que algum dia seria sequer imaginável ver num produto americano. Passa pela estranheza, quase repulsa, mas comove e fascina ao mesmo tempo. Sangue, muito sangue e imagens perturbadores e chocantes, sexo, violência e sentimentos, tudo num só filme ou conjunto de obras deste autor.

Alguns dos exemplos são assim propostos na minha lista para este mês.


Andreia Mandim (Cinema's Challenge)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

1º aniversário


O 1º post, o de apresentação, data do final de Janeiro, mas a primeira "Tertúlia" foi a de Fevereiro sob o manto do Filme Noir.

Agora voltando a Fevereiro completou-se um ano, um ciclo. Algumas coisas mudaram, mas coisa pouca. Mantém-se uma programação interessante, diversificada e equilibrada todos os meses. A todos os que perderam tempo para ajudarem nessa mesma programação, um muito obrigado.

A todos os que passam por cá, espero que de alguma forma o blog tenha sido útil, seja para descobrir ou re-descobrir filmes, para conhecer outras opiniões ou para o que quer que seja.
Porque gostar de cinema é querer conhecer mais, é uma fome que nunca tem fartura.

O assustador é que passou depressa. Foi mesmo há um ano que isto começou?

Tertúlia de Cinema XII

Tema: Cinema avant-garde, com Alejandro Jodorowsky




1º El Topo (1970)




Realizador: Alejandro Jodorowsky
Ficha Técnica no imdb


Trailer:



A ter início em 10 de Fevereiro de 2012




2º The Holy Mountain (1973)





Realizador: Alejandro Jodorowsky
Ficha Técnica no imdb


Trailer:



A ter início em 18 de Fevereiro de 2012




3º Santa Sangre (1989)



Realizador: Alejandro Jodorowsky
Ficha Técnica no imdb


Trailer:



A ter início em 28 de Fevereiro de 2012





Tertúlia planeada por Andreia Mandim (Cinema's Challenge)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Dellamorte Dellamore (1994)


Após a minha desistência do curso de Comunicação Social, tive a sorte de viver quatro anos em Boston, no estado de Massachusetts, para onde fui estudar o que realmente queria. O trabalho era árduo, mas eu descobri a minha salvação numa secção de DVD´s da Tower Records chamada Midnight Movies - nesta secção, descobri todos os clássicos da série B (ou série C!). Filmes eróticos do Ed Wood, lésbicas na prisão, o catálogo da Troma. Foi aqui também que descobri a minha paixão por filmes de zombies e pelo terror italiano: Fulci, Bava, Argento. Entre estes filmes descobri um filme chamado Cemetery Man, originalmente Dellamorte Dellamore, e é uma adaptação livre de um famoso fumetti italiano chamado Dylan Dog. Quando vi a capa, claramente camp, pensei que seria "mais um". Mais um entre outras centenas de filmes de zombies, daqueles que rapidamente desaparecem da memória. Não é. É um filme especial: é um filme muito especial.


Não há milagres - Michele Soavi fora assistente de realização do supra-citado Terry Gilliam no maravilhoso filme The Adventures of Baron Munchausen (1988), outro filme incompreendido de Gilliam, que foi um verdadeiro desastre de bilheteira.

A realização de Dellamorte Dellamore mostra uma sensibilidade especial - é um tratado sobre o amor, sobre a amizade, sobre a traição, sobre a morte. As influências do realizador são várias - vemos o surrealismo de Gilliam, vemos os mestres do novo cinema de terror italiano, vemos a composição de René Magritte (de realçar a sequência baseada no quadro Os Amantes). Sim. Este filme não é um cachimbo. É bem mais do que isso - embora disfarçado de um filme de zombies, este filme é, sem dúvida alguma, um poema visual e um testemunho profundo sobre importantes questões existenciais.


"This film was not a horror film. This film was about the fear of life."

Michele Soavi - 2010 interview



Infelizmente, pouco mais se ouviu falar deste brilhante realizador. Retirou-se pouco após este filme para tratar do seu filho, que viria a falecer de uma doença crónica. Embora tenha recentemente retomado a sua carreira de realizador, vi, neste seu filme, algo que não se encontra com frequência: verdadeira generalidade.

Para concluir, digo que este filme serviu de motivação para fazer uma interrupção na minha vida de músico e abraçar um projecto cinematográfico - a minha primeira curta-metragem, "I´ll see you in my dreams", foi uma homenagem directa a este filme. O facto de o título ser uma canção tem directamente a ver com Brazil, em que uma canção sumariza a ideia principal do filme.


Filipe Melo (Dog Mendonça e Pizzaboy)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Dreams (1990)


Lembro-me de onde e quando vi este filme pela primeira vez. Em Lisboa existe um Centro Comercial que tinha um cinema, o Apolo 70. Vi-o aí, na companhia da minha mãe, numa das inúmeras vezes em que nos metíamos num cinema sem saber o que nos esperava. Sem querer estar armado em esperto, creio que ainda hoje acho que este não é filme para um pré-adolescente, mas aconteceu, e ainda bem que aconteceu, porque o adorei desde o primeiro dia; e o único filme japonês que até então conhecia era o Godzilla.

Este filme é baseado nos próprios sonhos de Akira Kurosawa, e é dividido em vários capítulos ou segmentos independentes. O que me surpreende é a forma como um filme muito mais visual do que narrativo conseguiu permanecer durante tantos anos na minha memória - e eu tinha uma mente pouco adulta, habituada ao História Interminável, ao Conan o Bárbaro e aos filmes do Van Damme. Ainda hoje me pergunto como é que este filme conseguiu, de facto, marcar-me da forma como marcou. Este filme é, de alguma forma, uma espécie de biografia do inconsciente do seu realizador.


Como nos filmes acima referidos, é muito difícil falar sobre um objecto artístico que se baseia fortemente na abstracção - a memória torna-se sensorial e emocional, e qualquer discussão sobre os aspectos técnicos ou narrativos torna-se completamente secundária e irrelevante.

O que une estas três obras é essa abstracção: a fusão entre o fascinante mundo dos sonhos e o cinzento mundo real. Motivam-nos a misturá-los cada vez mais nas nossas próprias vidas, e a não esquecermos aquilo que sempre fomos, desde as mais remotas memórias que temos até àquilo que somos hoje, enquanto adultos.


Filipe Melo (Dog Mendonça e Pizzaboy)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Brazil (1985)


Vi este filme pela primeira vez no princípio dos anos 90, sem saber quem era o Terry Gilliam, apesar de, pelas noites da RTP, conhecer bem os Monty Python. Aluguei-o, como a muitos outros, no videoclube do Centro Comercial Fonte Nova, especialmente por duas razões: a primeira foi o Robert de Niro, que na altura tinha pelos cinemas um filme de que gosto muito chamado Midnight Run (1988). A segunda razão foi o Bob Hoskins, de quem eu era fã por causa do Who Framed Roger Rabbit?, filme do mesmo ano.


Nada me poderia preparar para a experiência que se seguiu. Eu estava à espera de um filme normal. O que se seguiu foi, no entanto, uma experiência muito especial. Brazil é um filme que consegue algo verdadeiramente difícil - conciliar um orçamento gigante com uma história surrealista, pessoal e extremamente perturbadora. O final deste filme(acompanhado pela alegre canção de Ary Barroso - Aguarela do Brasil) continua a ser, a meu ver, um dos momentos mais desesperantes e aterrorizadores da história do Cinema. Porém, existe um contraste muito grande entre o mundo horrível em que o protagonista vive e o mundo imaginário que o liberta da realidade controladora e burocrática do seu dia-a-dia. À medida que o filme avança, o mundo de sonhos de Sam Lowry (Jonathan Pryce) vai-se misturando com o mundo cinzento que o cerca, gerando uma espiral em que nós, como meros espectadores, nos vamos envolvendo e da qual não sairemos durante muito tempo - literalmente enlouquecemos com a personagem.


"I actually design [a film] so that, I hope, people will go back and see it again and again. I find that most films are a little bit like fast food. I mean you have them and it's fine and it's over and done with and that's the end of it. And I like the idea of going back and rediscovering, or discovering new things all the time."


- Gilliam, 1986 Interview



A narrativa do filme é relativamente linear, porém, a forma como é contada faz com que seja um filme extremamente original. Não irei contar-vos a história - é um filme que terão de ver, porque não há qualquer forma de utilizar palavras para o descrever. Este filme é, possivelmente, o melhor exemplo da mente visionária de Terry Gilliam, que continua a ser um dos poucos realizadores que consegue evitar cedências face à pressão dos grandes estúdios, o que também explica os gigantes problemas de produção que caracterizam todos os seus filmes. A complexidade de Brazil faz com que não seja só um filme. É uma viagem à imaginação e aos próprios sonhos do realizador.


Filipe Melo (Dog Mendonça e Pizzaboy)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Tertúlia de Cinema XI

Tema: Os Sonhos no Cinema



É sempre muito complicado para mim escrever sobre filmes, música (ou qualquer arte), especialmente se tentar escrever um texto mais emocional que técnico. Para esta tertúlia, decidi enfrentar o desafio de contrariar a minha tendência natural para preparar tudo e decidi apenas escrever, sem revisão, sem preocupações e, acima de tudo, sem pretensões. São filmes de que gostei muito e com os quais tenho uma relação emotiva muito forte. Acredito que, de uma forma pouco óbvia, estão intimamente relacionados.




1º Brazil (1985)



Realizador: Terry Gilliam
Ficha Técnica no imdb


Trailer:



A ter início em 10 de Janeiro de 2012








2º Dreams (1990)



Realizador: Akira Kurosawa
Ficha Técnica no imdb


Trailer:


ver aqui.


A ter início em 19 de Janeiro de 2012







3º Dellamorte Dellamore (1994)





Realizador: Michele Soavi
Ficha Técnica no imdb



Trailer:



A ter início em 28 de Janeiro de 2012





Tertúlia planeada por Filipe Melo (Dog Mendonça e Pizzaboy)