quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Dreams (1990)


Lembro-me de onde e quando vi este filme pela primeira vez. Em Lisboa existe um Centro Comercial que tinha um cinema, o Apolo 70. Vi-o aí, na companhia da minha mãe, numa das inúmeras vezes em que nos metíamos num cinema sem saber o que nos esperava. Sem querer estar armado em esperto, creio que ainda hoje acho que este não é filme para um pré-adolescente, mas aconteceu, e ainda bem que aconteceu, porque o adorei desde o primeiro dia; e o único filme japonês que até então conhecia era o Godzilla.

Este filme é baseado nos próprios sonhos de Akira Kurosawa, e é dividido em vários capítulos ou segmentos independentes. O que me surpreende é a forma como um filme muito mais visual do que narrativo conseguiu permanecer durante tantos anos na minha memória - e eu tinha uma mente pouco adulta, habituada ao História Interminável, ao Conan o Bárbaro e aos filmes do Van Damme. Ainda hoje me pergunto como é que este filme conseguiu, de facto, marcar-me da forma como marcou. Este filme é, de alguma forma, uma espécie de biografia do inconsciente do seu realizador.


Como nos filmes acima referidos, é muito difícil falar sobre um objecto artístico que se baseia fortemente na abstracção - a memória torna-se sensorial e emocional, e qualquer discussão sobre os aspectos técnicos ou narrativos torna-se completamente secundária e irrelevante.

O que une estas três obras é essa abstracção: a fusão entre o fascinante mundo dos sonhos e o cinzento mundo real. Motivam-nos a misturá-los cada vez mais nas nossas próprias vidas, e a não esquecermos aquilo que sempre fomos, desde as mais remotas memórias que temos até àquilo que somos hoje, enquanto adultos.


Filipe Melo (Dog Mendonça e Pizzaboy)

2 comentários:

  1. Vi há bastantes anos, na RTP2, lembro-me pouco em concreto, mas recordo-me que deixou uma forte impressão, apesar de fragmentado, abstracto como dizes...

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  2. O primeiro que vi já há bastante tempo foi o 7 samurais.

    Falaram-me deste há um ano atrás, a ideia de filmar os seus sonhos captou-me imediatamente a atenção, mas como muita coisa na minha vida ficou adiado. Agora não podia deixar passar a oportunidade de ver.

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