quinta-feira, 31 de março de 2011

Profondo Rosso (1975)

“Profundo Rosso” (1975), de Dário Argento, é mais do que um filme de terror. É uma das mais impressionantes obras do subgénero giallo – que se refere ao crime ficcional, mistério ou a thrillers psicológicos, que surgiu nos anos 60 no cinema.



As sequencias de assassinatos, o jogo de sombras, a soundtrack absolutamente bem escolhida, as personagens soberbas e uma história pouco comum. São estes alguns dos ingredientes que podemos encontrar neste filme, também escrito por Argento. Um assassino desconhecido, bastante sangue, não como no subgénero gore, mas algo bem mais clássico e quase ‘belo’ é assim que “Deep Red”, nome em inglês, se distancia de muitas outras obras de terror italiano e contemporâneo.





Andreia Mandim / Cinema's Challenge

segunda-feira, 21 de março de 2011

I Tre Volti della Paura (1963)

Movies are a magician's forge. They allow you to build a story with your hands.
Mario Bava


Da cor e da luz

Bava começou como director de fotografia no regime fascista de Benito Mussolini, facto muitíssimo importante. Deve a estes anos todo o talento e à vontade para manipular os seus filmes pelo controlo da cor e da luz e isso é coisa que faz desde La Maschera del demonio, de 1960, o primeiro filme a ele creditado. Se a fotografia parece exagerada ou completamente desvairada (se isso é mau) nos filmes de Bava, é porque o género e o tema se prestam a isso. Bava é um cineasta de obsessões, sexuais, visuais, sonoras; é cineasta de ciclos de cores, de planos, de movimentos de câmara; e como não há adjectivos para imensas sequências deste filme em particular, descrevo a aproximação de Boris Karloff à câmara, plano perto do fim do segundo episódio, as várias cores a iluminar as duas faces do actor, verde, vermelho, close up. Bava é tremendamente barroco e sabe conter-se até à explosão formal, tem perfeito domínio da paleta de cores à sua disposição, conhecendo o estúdio e as suas potencialidades como se conhece a si.


Il telefono


Do som e do ritmo

Se Bava é o cineasta da cor, a verdade é que I Tre Volti della Paura é o filme do som. Tudo se constrói em torno dele, havendo um leitmotif recorrente para cada episódio.; Em Il Telefono, é o tique-taque do relógio, que marca o tempo e estabelece a tensão, os “guinchos” do telefone só têm, aliás, o poder que têm por causa disso. Só são aguçados e aterrorizadores porque há uma tensão incrível (tique taque, tique taque), um compasso de espera. Em I Wurdalak, é o vento e em Goccia d'Aqcua é a gota de água (este último, aliás, constrói-se todo sob o signo do som). São tudo peças de tensão construídas meticulosamente, mais por Bava do que por qualquer director de som. Estes leitmotifs sonoros percebem-se nas pausas discursivas do filme, e têm beleza neles, não são “só” sons. Mise en scène é o segundo episódio de I Tre Volti della Paura, montagem é o primeiro e sound design é o terceiro. Porque em Goccia d'Acqua passa-se tudo em off, fora de campo, e Bava (aqui grande menção, também, a Mario Messina, o director de som) pontua todo o episódio com o innuendo constante do som. O filme, esse, é a Santíssima Trindade do Terror, cada episódio parece abrir uma corrente estética do Horror distinta. Il Telefono (Carpenter, Argento, giallo), I Wurdalak (Tim Burton, George Romero) e Goccia d'Acqua (Polanski, DePalma). E nisto acredito piamente.

I Wurdalak


Do espaço e dos ambientes

A terceira dimensão fílmica a seguir ao som e à imagem, o espaço. Bava trabalha-o aqui extraordinariamente. Em todos os episódios há um local-chave onde tudo acaba por confluir, seja o apartamento de Il Telefono, a casa medieval de I Wurdalak e o apartamento sombrio de Goccia d'Acqua. Convém, no entanto, sublinhar, que para cada episódio tem efeitos diferentes, porque, por exemplo, só no último episódio é que há verdadeira claustrofobia, os dois primeiros são muito mais abertos, o terror vem doutro sítio.
“Ambiência” é o resultado de tudo isto, a tal coisa que muitos filmes (a maior parte) não têm. Só há mise en scène, que é como quem diz, só há ritmo ou só há ambiente, quando se é cineasta antes de autor e artesão antes de cineasta (como o comprova a citação do início). Bava era artesão antes de tudo, e não há melhor elogio possível.

Goccia d'Acqua



João Palhares / Cine Resort

quinta-feira, 10 de março de 2011

La Maschera del Demonio





Steele (A rainha do terror Italiano)


Realizado por Mario bava e com a carismática Barbara Steele no papel principal, La Maschera del Demonio é definitivamente um marco na historia do cinema Italiano.

Visualmente hipnótico, um tanto teatral e definitivamente gótico este foi o filme que catapultou Mário Bava para a fama.




“‘One day in each century it is said that Satan walks among us. To the God-fearing this day is known as Black Sunday,’ a portentous voice has told us. Surely this is that day, and the face that glares at us from the screen, transfixed in a seeming ecstasy of evil, is Satan incarnate in bewitching mortal form. The glaring depths of her eyes radiate pure hatred, but strangely, this in no way obscures their beauty. A predatory joy in her savage expression imbues the pale visage with an inhuman quality. Her lips are thin, yet sensuous. Wild black hair frames the pale cheekbones. A study in chiaroscuro, her luminous portrait is delineated in shadows worthy of the brush of an unknown master. The exquisite face is cruelly marred by a pattern of wounds, impressed upon her flesh by the spiked mask she has worn for centuries.”
Nikolas Shreck


Snow White

terça-feira, 1 de março de 2011

Terror Italiano

Os filmes deste ciclo (relembrando, La maschera del demonio, I tre volti della paura e Profondo Rosso) têm todos em comum o serem italianos e o serem de terror. Além disso, os dois primeiros são de Mario Bava. Mas as grandes semelhanças acabam aí. Porque começo assim? Porque o género é muito variado e riquíssimo.

Apesar de tardio (só chegou nos anos 50, com I Vampiri, de Bava e Riccardo Freda), e de ter feito pouco sucesso na Itália (que é o que explica, em parte, as co-produções e os títulos infinitos, o procurar lucro noutros países), foi possível produzirem-se, dentro do género nos anos 60 e 70, vários filmes. Foi também possível ver nascer realizadores (artesãos) que se dedicaram quase inteiramente ao género. O já citado Mario Bava, Dario Argento, Lucio Fulci, Sergio Martino, Ruggero Deodato e Joe D' Amato (the "Evil Ed Wood") foram, talvez, os nomes mais importantes.

À Itália e ao terror associa-se sempre o giallo, muito pelo sucesso de Argento na América. O primeiro giallo é de Bava e chama-se La ragazza che sapeva tropo. A partir daí vários realizadores trabalharam nesses moldes, como o Fulci, por exemplo. Martino foi, a seguir a Argento, o grande artesão do giallo. Câmaras virtuosas, mortes vistosas, um "mau gosto" excêntrico e melodioso (se fosse um género musical era para aí um death metal) são as principais características.

Nada que ver, no entanto, com o horror e o fantástico de Bava, o gore de Fulci e o terror sem orçamento de Joe D' Amato. No fim, e bem vistas as coisas, a seguir aos anos dourados da Universal, à glória dos estúdios Hammer, o terror chegou a Itália. Entre as coisas que apelavam, no terror italiano, estavam (e estão, ainda) as cores prodigiosas, os travellings engenhosos, a inspiração em escritores como Edgar Allan Poe, Joseph Conrad ou fábulas e estórias medievais.

Mas mais interessante que isto é ver os filmes. Não só os deste ciclo de tertúlias, mas mais.


João Palhares / Cine Resort