sábado, 12 de novembro de 2011

Jigoku (1960)


O Inferno, enquanto conceito abstracto, tem atraído cineastas de diversas culturas e épocas a expressarem as suas visões artísticas sobre o lugar destinado àqueles que “não souberam levar uma vida terrestre livre de pecado”. Entre os títulos mais memoráveis, contam-se os fundamentais DIA DE CÓLERA (1934, Carl Theodor Dreyer), ESTA NOITE ENCARNAREI NO TEU CADÁVER (1967, José Mojica Marins), HELLRAISER (1987, Clive Barker) e, obviamente, este JIGOKU que, coincidência ou não, significa Inferno em japonês…


Produzido em 1960 pelos lendários estúdios Shintoho, JIGOKU é de visualização indispensável para a compreensão do cinema de terror japonês moderno. A sua surreal imagética, o humor negro e a ênfase na violência e no gore influenciaram, em grande medida, Shinya Tsukamoto (um dos seus filmes estará em destaque este mês no Tertúlia Cinematográfica) e Takashi Miike. Contudo, também é um produto do tempo e país em que foi filmado, ou seja, um Japão ainda a recuperar das feridas da Segunda Guerra Mundial. O foco implícito do filme nas divergências da natureza humana, que balança entre o bem e o mal numa interminável e, em última instância, infrutífera luta, é destacado logo na primeira sequência, em que escutamos uma oração budista sobre as tentações e fragilidades da carne.


Perante este início carregado de simbolismo religioso, e com uma primeira hora que se desenrola de forma relativamente convencional, nada nos prepara para o grande desenlace de JIGOKU. Quando somos “convidados”, numa cena particularmente impressionante em termos de construção visual, a descer ao Inferno, espera-nos alguns dos momentos mais alucinantes, inesperados e aterradores que já foram observados em Cinema.
Um imperdível triunfo de direcção artística e efeitos especiais, um conto moral como raramente se faz actualmente, um marco na cinefilia de terror.


Samuel Andrade (Keyzer Soze's Place)

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