segunda-feira, 28 de novembro de 2011

TETSUO: THE IRON MAN


Tão estranho e surreal quanto ERASERHEAD (1977, David Lynch) e tão intenso quanto a desvitalização de um dente sem anestesia, TETSUO: THE IRON MAN é ficção-científica de terror como só os japoneses poderiam conceber e, habitualmente, através da animação. Mas aqui não. TETSUO é em imagem real e, por isso, ainda mais perturbador.

As desventuras de um empregado de escritório que, após atropelar fatalmente um homem com fetiche por metais, vê o seu corpo transformar-se, lenta e dolorosamente, num pedaço de “lata” ambulante, dão o mote para uma sucessão de eventos que elevam o conceito de grotesco a níveis raramente vistos em Cinema, reinventando pelo meio a noção de fantasia sexual bizarra e culminando numa batalha telepática capaz de — literalmente — arrasar o mundo. Tudo isto no espaço de uns breves e inesquecíveis 67 minutos…


Repleto de referências cinematográficas ocidentais (desde as primeiras e “virulentas” obras de David Cronenberg, passando pelos frenéticos trabalhos de montagem e fotografia de Sam Raimi, até às composições estilizadas dos filmes mudos), TETSUO: THE IRON MAN é, também, uma homenagem às películas nipónicas de samurais e monstros mutantes, ao tradicional teatro Kabuki e às edições manga para adultos. No entanto, todo o mérito tem de ser atribuído a Tsukamoto, que realizou, escreveu, fotografou, editou e concebeu os efeitos especiais deste filme — e ainda teve tempo de protagonizar o acima mencionado fetichista de metais.

Desde as suas primeiras exibições, em 1989, TETSUO: THE IRON MAN tem sido interpretado como uma metáfora sobre SIDA e ansiedade sexual ou uma crítica ao incremento de uma tecnologia desumanizante. Simbolismos à parte, considero-o apenas como um dos melhores e mais descomprometidos títulos de terror cyberpunk de todos os tempos.


Samuel Andrade (Keyzer Soze's Place)

sábado, 19 de novembro de 2011

Kaidan (1964)


Quando pensamos em J-Horror, a nossa memória cinéfila remete-nos, quase imediatamente, para espectros de cabelos compridos, olhos ebúrneos e hábeis em assombrar os mais diversos meios de tecnologia moderna. Poderá, assim, ser estranho para alguns encarar KAIDAN como obra seminal do género, sobretudo se atentarmos ao facto de que o filme bebe inspiração em quatro lendas do folclore medieval nipónico, pejadas de simbolismo moral e/ou romântico e sem um único jump scare para a conta…
No entanto, e ao longo da visualização de KAIDAN (ou “histórias de fantasmas”, em japonês), quase todos os títulos que associamos ao cinema de terror moderno oriundo do país do Sol Nascente serão invocados — atrevo-me mesmo a dizer, a génese de RINGU (1998, Hideo Nakata) ou JU-ON (2002, Takashi Shimizu) nasceu por intermédio de Masaki Kobayashi.


KAIDAN é mais prolífero na criação da atmosfera sobrenatural do que em perturbar o espectador pelo susto surpresa. Em todas as suas quatro histórias — linearmente intituladas como «The Black Hair», «The Woman of the Snow», «Hoichi, the Earless» e «In a Cup of Tea» —, e através do seu magnífico trabalho visual expressionista, somos testemunhas dos pesadelos mais bucólicos que a Sétima Arte já ofereceu, plenos de estilização cenográfica, arrojados esquemas cromáticos e lânguida direcção de fotografia, apta a conferir vida às histórias de batalhas navais representadas nos painéis “e-maki”.
Mas é na concepção subtil do terror das suas narrativas que KAIDAN, realmente, se distingue. Preenchido por temas como o tumulto interior causado por anos de remorsos e sentimentos de culpa, as consequências da sedução descomprometida, a assombração incauta e a negação do próprio irreal, não é difícil catalogá-lo como um portento de horror espiritual e psicológico, absolutamente inspirador para cineastas (ou não) dedicados ao género e totalmente inesquecível.



Samuel Andrade (Keyzer Soze's Place)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

TCN Awards

melhor iniciativa

Esta proposta de tertúlias cinematográficas mensais foi nomeada nos prémios TCN Awards, para "Melhor iniciativa".
Os restantes nomeados, podem ser consultados no blog organizador, Cinema Notebook, onde podem também dirigir-se para votar.

Como se pode ver, este ano existiram grandes iniciativas que nasceram a partir de blogs. E todos os nomeados estão de Parabéns.
No entanto, tenho de salientar uma iniciativa em particular, a do grupo de Bloggers Cinéfilos, criado pelo Samuel Andrade. Não fosse este grupo que conseguiu reunir um enorme grupo de amantes de cinema e provavelmente nunca teria avançado com esta ideia. Sem o grupo de Bloggers cinéfilos, não haveria Tertúlia.

Um muito obrigado a todos os que votaram, este blog não seguiu o caminho que idealizei a início, mas tem, de qualquer das maneiras, vindo a conquistar o seu espaço na blogoesfera. E prometo surpresas para o próximo ano.

Por fim agradeço a todos os que participam nesta tertúlia (vários dos quais nomeados em outras categorias). O blog é nosso, a nomeação é nossa.

Muito obrigado a:

- Álvaro Martins

- Andreia Mandim

- Danilo Donzelli Alves

- Francisco Rocha

- Gonçalo Trindade

- Hugo Teixeira

- João Gonçalves

- João Palhares

- Miguel Lourenço Pereira

- Nuno Salvador

- Nuno Reis

- O Projeccionista

- Paulo Soares

- Pedro Ponte

- Samuel Andrade

- Snow White

sábado, 12 de novembro de 2011

Jigoku (1960)


O Inferno, enquanto conceito abstracto, tem atraído cineastas de diversas culturas e épocas a expressarem as suas visões artísticas sobre o lugar destinado àqueles que “não souberam levar uma vida terrestre livre de pecado”. Entre os títulos mais memoráveis, contam-se os fundamentais DIA DE CÓLERA (1934, Carl Theodor Dreyer), ESTA NOITE ENCARNAREI NO TEU CADÁVER (1967, José Mojica Marins), HELLRAISER (1987, Clive Barker) e, obviamente, este JIGOKU que, coincidência ou não, significa Inferno em japonês…


Produzido em 1960 pelos lendários estúdios Shintoho, JIGOKU é de visualização indispensável para a compreensão do cinema de terror japonês moderno. A sua surreal imagética, o humor negro e a ênfase na violência e no gore influenciaram, em grande medida, Shinya Tsukamoto (um dos seus filmes estará em destaque este mês no Tertúlia Cinematográfica) e Takashi Miike. Contudo, também é um produto do tempo e país em que foi filmado, ou seja, um Japão ainda a recuperar das feridas da Segunda Guerra Mundial. O foco implícito do filme nas divergências da natureza humana, que balança entre o bem e o mal numa interminável e, em última instância, infrutífera luta, é destacado logo na primeira sequência, em que escutamos uma oração budista sobre as tentações e fragilidades da carne.


Perante este início carregado de simbolismo religioso, e com uma primeira hora que se desenrola de forma relativamente convencional, nada nos prepara para o grande desenlace de JIGOKU. Quando somos “convidados”, numa cena particularmente impressionante em termos de construção visual, a descer ao Inferno, espera-nos alguns dos momentos mais alucinantes, inesperados e aterradores que já foram observados em Cinema.
Um imperdível triunfo de direcção artística e efeitos especiais, um conto moral como raramente se faz actualmente, um marco na cinefilia de terror.


Samuel Andrade (Keyzer Soze's Place)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Tertúlia de Cinema IX

Tema: J-Horror



1º Jigoku (1960)

Realizador: Nobuo Nakagawa
Ficha Técnica no imdb

Trailer:



A ter início em 11 de Novembro de 2011



2º Kaidan (1964)

Realizador: Masaki Kobayashi
Ficha técnica no imdb

Trailer:



A ter início em 19 de Novembro de 2011



3º Tetsuo (1989)

Realizador: Shin'ya Tsukamoto
Ficha técnica no imdb

Trailer:



A ter início em 28 de Novembro de 2011



Tertúlia planeada por Samuel Andrade (Keyzer Soze's Place)