sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Der Letzte Mann (1924)


O Último dos Homens é um filme obrigatório e digno de estudos sobre o cinema mudo, com um poder que não diminuiu em mais de 85 anos. O cruzamento entre o director de fotografia Karl Freund, com o argumentista Carl Mayer e F.W. Murnau originam um filme notável; Murnau estava no auge da sua força, enquanto que Freund, aos 34 anos era uma grande promessa da fotografia. É discutível saber qual dos dois será o responsável pela maioria dos atributos exclusivos do filme, mas também é facilmente perceptível que os seus talentos combinados tornaram o filme muito melhor do que o material poderia sugerir na tela, mesmo tendo em conta as habilidades melodramáticas de Mayer. É uma história simples, como qualquer outra contada através da interpretação, iluminação e cenografia, mas a razão para o seu sucesso é o seu trabalho de câmara inovador.
Ao retratar o porteiro confiante (um brilhante Emil Jannings) de um Hotel de luxo que acabará os seus dias a estender toalhas aos clientes que utilizam a casa-de-banho, Murnau acaba por mostrar, de forma crua, que toda e qualquer pessoa, a partir do momento em que a sua utilidade cessa, deve ser encostada a um canto, posta na prateleira. Enfim, deve ser afastada.


Obviamente, há muito mais para além desta mensagem básica, como é o caso da importância atribuída ao uniforme. O porteiro que, confiantemente passeava num bairro decrépito com o seu uniforme luminoso e resplandecente, depois da despromoção tudo fará para manter a farsa. O uniforme, símbolo de falsas aparências e convenções sociais fúteis acabará, assim, por ser o elo que manterá o decorrer da acção.
Dir-se-ia que Murnau retrata uma das aplicações da lei do mais forte nas sociedades modernas (o que, de certa forma, seria uma antevisão da triste realidade que a Alemanha viveria na década de 30 até 1945). Talvez, mas vai para além disso. Murnau, traça um retrato sarcástico do Homem cruel e insensível, mas, também, dos tontos que se fiam num qualquer símbolo de poder ou distinção, por mais insignificante que seja.

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