quarta-feira, 13 de abril de 2011

Muriel ou Le temps d'un Retour (1963)


Em quase todos os seus filmes Resnais “bate sempre na mesma tecla”, que é como quem diz, nas memórias e nos traumas que essas memórias revelam. Muriel é mais um desses exercícios onde não tanto quanto nos filmes anteriores se explora o trauma e a afectação dele no indivíduo. Importante (ou muito importante até) é realçar/exaltar a desconstrução narrativa que Resnais faz nos seus filmes (e junto com Godard são aqueles que mais revolucionaram essa narrativa na nouvelle vague), ao que Muriel, filme de memórias como Hiroshima e Marienbad, acarreta (como os anteriores citados) uma exacerbada atenção nos detalhes, nos mais insignificantes (que o possam parecer) movimentos, os saltos temporais, etc. As memórias, essas, falam de traumas passados, coisa exasperante que ameaça rebentar a qualquer instante (o que de facto sucede aqui em Muriel). Hélène e Alphonse ao fim de tantos anos voltam-se a encontrar, ela chamou-o, o amor entre eles ainda não morreu. E o reencontro vai reanimar ou recomeçar esse amor, vai fazê-los revisitar as memórias (e com isto retoma aquilo que fez em Hiroshima). E, tanto Hélène como Alphonse, demonstram sobretudo arrependimento pelo presente e pelo passado que resultou naquele presente. E por isso aquela insegurança, aquele desconfiar de tudo. Mas será possível esse recomeço? Com todas aquelas mentiras que se vão revelando? A Bernard assombram-no as memórias, perseguem-no, o trauma dele é duma dimensão superior. A Muriel do título foi vítima dos soldados franceses na Argélia, os gritos dela estão bem gravados na memória dele (e no gravador). O que Resnais faz em Muriel é confundir o espectador com o presente e passado, as mentiras, o que é real e o que são memórias.




Álvaro Martins / Preto e Branco

1 comentário:

  1. Penso que até à data tinha visto apenas 2 filmes da Nouvelle Vague francesa. estou longe de ser um conhecedor mediano.

    Este Muriel demonstra realmente uma forma diferente de filmar, um estilo diferente do que se fazia antes tal como o Pedro fez referência no texto abaixo.

    Foi o 1º filme que vi de Alain Resnais por isso sobre a sua temática não posso opinar, mas de resto estou em acordo com o Álvaro.

    Algo muito curioso é que Resnais filma as personagens da mesma forma estejam na cena os protagonistas ou não.

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