segunda-feira, 16 de abril de 2012
Shivers (1975)
Nutro uma afeição especial pelo terror claustrofóbico, onde o mote é: "Não há sítio para onde fugir". A ideia de estarmos em perigo e presos numa qualquer localização é absolutamente aterradora, tal como tudo que mexe com a nossa liberdade. Algumas pérolas do género terão de ser o "Alien" de Ridley Scott, pois "no espaço ninguém te consegue ouvir", e o "The Thing" de John Carpenter situado na gélida e desértica Antárctica onde o "Homem é o sítio mais quente para se esconder". Antes destes em 1975 um jovem realizador Canadiano, até então praticamente desconhecido, escreveu e realizou "Shivers" também conhecido por "They Came from Within,". Aqui o espaço e a Antárctica são substituídos por um local mais familiar, um complexo de prédios situado numa ilha no Canadá, e por sua vez as entranhas rebentadas por dentro dão lugar a uma "orgia de parasitas sanguíneos" (o título pelo qual foi filmado).
É precisamente nestes parasitas que o filme de Cronemberg se distingue entre os do seu género. A início a sua investigação era dirigida para substituírem órgãos, porém, a dada altura o médico que os criou privilegiou outro aspecto do corpo humano, a estimulação da libido, tentando colocar assim o Homem em maior contacto com a sua natureza sexual que é constantemente bloqueada ou escondida em prol de valores culturais e morais. O resultado final é uma epidemia de sexo, pois todos os infectados vagueiam pelos diversos andares a tentar fornicar uns com os outros, infectando por sua vez quem lhes aparecer à frente. No fundo em vez de termos o típico grupo de pessoas a infectarem-se e matarem-se umas às outras, como os Zombies, temos um grupo de pessoas a tentar recriar, à força, as cenas em "Eyes Wide Shut", só que sem o glamour das máscaras de Veneza, até porque o glamour de "Shivers" é outro, é sangue e carne.
Também se acaba por sentir um paralelismo em relação ao tema das doenças sexualmente transmissíveis, mais especificamente em relação a esse terrível parasita que é o vírus do HIV, mas que curiosamente só seria descoberto 6 anos após a estreia de "Shivers".
Na altura o jornalista Robert Fulford arrasou o filme que tinha sido financiado pelo estado, mais especificamente pela Telefilm Canada (como é hoje apelidada). O texto de Fulford ostentava como título "You Should Know How Bad This Movie Is, You Paid For It.". Por causa desta crítica severa o realizador foi expulso do seu apartamento e teve maiores dificuldades em encontrar subsídios para os seus projectos futuros. Contudo, como hoje sabemos, não foi nada que Cronemberg não tivesse superado e prova disso é a sua extraordinária carreira.
Gabriel Martins (Alternative Prison)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário