quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Stars In My Crown (1950)

É-me muito difícil falar sobre este filme. Difícil porque acho impossível expor todo o assombramento e alegria que se me invadem sempre que o vejo. Como é que em menos de 90 minutos se chega a tanto? Se conta tanto? Se eleva cada personagem com uma delicadeza tão tocante? Como é que em quatro planos – e sem diálogos, na sequência da carroça de feno – se descreve antologicamente todas as infâncias?
Stars in My Crown é um western pelo período e pelo país em que decorre a acção. Sobre uma comunidade, sobre as bases sociais e educacionais dessa comunidade. Sobre a espiritualidade dos seus membros. É sobre tudo um bocado, por haver um interesse, uma vontade, de se fazer ver a complexidade pelo que é mais simples. Procurá-la pela contemplação. Sem dúvida alguma, um dos “essenciais da História do Cinema”, embora pouca gente o conheça.


Para terminar, dou a palavra a Jacques Tourneur, o realizador:

Nessa altura (1949), estava livre, e não tinha contrato com nenhuma firma. Tinha ganho bastante dinheiro com os filmes Berlin Express (1948) e Easy Living (1949). Tinha um grande amigo na MGM, o William Wright, que preparava um pequeno filme. Pedi-lhe para ler o argumento e ele emprestou-mo. Entusiasmei-me logo. Telefonei a Wright e disse-lhe que queria, custasse o que custasse, filmar esse argumento. Respondeu-me: 'Mas, Jacques, é um filme sem importância, com um orçamento reduzidíssimo, que tem que ser feito em doze dias, e a nossa ideia é contratar um realizador pago à semana'. Continuei a insistir e ele disse-me: 'Jacques, percebe-me, não te podemos pagar'. Respondi-lhe: 'Ouve, não há problemas, faço o filme de graça'. Esta resposta estarreceu-o e, no dia seguinte, mandou-me dizer que me pagaria o que estavam dispostos a pagar ao realizador contratado à semana. O que, de resto, acabou por se virar contra mim, porque, quando acabei o filme, e me propuseram outros, todos os estúdios iam logo perguntar à Mgm quanto é que me tinham pago e foi assim que o meu ordenado foi reduzido ehttp://www.blogger.com/img/blank.gifm dois terços. Foi o preço que paguei pela minha vontade de rodar este filme. O autor do romance, Joe David Brown, escreveu-me uma carta que guardei, em que me dizia que tinha ficado comovidíssimo ao ver o filme, que o achava bem melhor que o romance. E ainda hoje, quando o encontro, Joel Mcrea diz-me sempre: 'Jacques, a maior alegria de toda a minha carreira foi ter trabalhado em Stars in My Crown (1964).


João Palhares (Cine Resort)

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