terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Brazil (1985)


Vi este filme pela primeira vez no princípio dos anos 90, sem saber quem era o Terry Gilliam, apesar de, pelas noites da RTP, conhecer bem os Monty Python. Aluguei-o, como a muitos outros, no videoclube do Centro Comercial Fonte Nova, especialmente por duas razões: a primeira foi o Robert de Niro, que na altura tinha pelos cinemas um filme de que gosto muito chamado Midnight Run (1988). A segunda razão foi o Bob Hoskins, de quem eu era fã por causa do Who Framed Roger Rabbit?, filme do mesmo ano.


Nada me poderia preparar para a experiência que se seguiu. Eu estava à espera de um filme normal. O que se seguiu foi, no entanto, uma experiência muito especial. Brazil é um filme que consegue algo verdadeiramente difícil - conciliar um orçamento gigante com uma história surrealista, pessoal e extremamente perturbadora. O final deste filme(acompanhado pela alegre canção de Ary Barroso - Aguarela do Brasil) continua a ser, a meu ver, um dos momentos mais desesperantes e aterrorizadores da história do Cinema. Porém, existe um contraste muito grande entre o mundo horrível em que o protagonista vive e o mundo imaginário que o liberta da realidade controladora e burocrática do seu dia-a-dia. À medida que o filme avança, o mundo de sonhos de Sam Lowry (Jonathan Pryce) vai-se misturando com o mundo cinzento que o cerca, gerando uma espiral em que nós, como meros espectadores, nos vamos envolvendo e da qual não sairemos durante muito tempo - literalmente enlouquecemos com a personagem.


"I actually design [a film] so that, I hope, people will go back and see it again and again. I find that most films are a little bit like fast food. I mean you have them and it's fine and it's over and done with and that's the end of it. And I like the idea of going back and rediscovering, or discovering new things all the time."


- Gilliam, 1986 Interview



A narrativa do filme é relativamente linear, porém, a forma como é contada faz com que seja um filme extremamente original. Não irei contar-vos a história - é um filme que terão de ver, porque não há qualquer forma de utilizar palavras para o descrever. Este filme é, possivelmente, o melhor exemplo da mente visionária de Terry Gilliam, que continua a ser um dos poucos realizadores que consegue evitar cedências face à pressão dos grandes estúdios, o que também explica os gigantes problemas de produção que caracterizam todos os seus filmes. A complexidade de Brazil faz com que não seja só um filme. É uma viagem à imaginação e aos próprios sonhos do realizador.


Filipe Melo (Dog Mendonça e Pizzaboy)

3 comentários:

  1. Conheci o Terry Gilliam com o 12 Macacos, que gostei muito, ainda antes de conhecer os Monty Pythons, nunca tinha visto a série que passou na 1.

    Gosto de todos os géneros cinematográficos, mas há sempre alguns por qual qual nutrimos um maior carinho. Eu sempre adorei o bizarro e depois de ver o Rei Pescador, estava mais que confirmado, Terry Gilliam é um realizador a seguir com muita atenção.

    Entretanto conheci os Monthy Pythons essa máquina do humor.

    Ao contrário do Filipe quando vi o Brazil já estava mais preparado para o que vinha aí, afinal além dos mencionados já tinha visto também o Fear and Loathing in Las Vegas, os Irmãos Grimm (dos que vi o menos favorito ainda assim com algum interesse) e o Imaginário do Dr. Parnassus.

    Mas Brazil tem um Universo só dele, talvez se vissemos um pouco mais da sociedade futurista em 12 macacos ela até fosse parecida, mas em Brazil conhecemos esta sociedade opressora muito mais detalhadamente.

    Tenho saudades destes ambiente sci-fy, hoje em dia as visões do futuro são bastante diferentes o que é normal tendo em conta a evolução tecnológica actual.

    O início é excepcional a trama do filme parte de um erro causado pela morte de uma barata. Numa sociedade opressora como esta um erro pode causar sérios estragos como se acaba por provar.

    Em relação ao final sublinho tudo que foi dito aqui. É sem dúvida extremamente angustiante e por isso mesmo tão bom e marcante.

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  2. pode-se, a meu ver, dividir os filmes em categorias, pelos temas que retratam, pelas formas de filmar, pela trama mais ou menos dialogada. e depois temos filmes como este...

    brazil é sem sombra de dúvida um filme bastante fora do "normal". ao vê-lo questionei-me tanto "o que virá a seguir"? - a verdade é que a dada altura já tudo era possível naquela realidade futurista, bastante diferente de tudo o que eu já tive contacto.

    foi uma óptima forma de começar o ano, estimulando a criatividade e dando asas à imaginação por vezes oprimida pelas vivências quotidianas a que somos sujeitos.

    e sim gabriel, as voltas que tudo teve a partir de uma barata! consegues imaginar outro animal para o efeito?! ;)

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  3. Um filme duma originalidade espantosa, com muito humor e aquele toque caótico que só Gilliam consegue dar.

    http://onarradorsubjectivo.blogspot.com/

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