segunda-feira, 30 de abril de 2012

Videodrome (1983)



Long Live The New Flesh.
Death to Videodrome


De todos os filmes de Cronemberg, "Videodrome" é talvez o mais surrealista de todos, um surrealismo ligado à tecnologia e por conseguinte um filme de ficção científica,  contudo, com essa tal aura surrealista bem vincada. Claro que a tecnologia no cinema de Cronemberg é muito particular, estamos a falar de algo maquinal, que normalmente é retratado como frio e metálico, algo racional. Se olharmos para "Videodrome" vemos que a tecnologia em Cronemberg é precisamente o oposto, algo quente e carnal, algo mais emocional. Estas características ainda são mais acentuadas no, futuro, "ExistenZ". Claro que "Naked Lunch" também é das obras mais surreais do realizador, mas aqui entra também a adaptação da obra de Burroughs.

De todos os filmes escolhidos este é o que tem o protagonista mais marcante e, verdade seja dita, deve-se ao carismático James Woods que torna o seu Max Renn numa das personagens mais fascinantes de todos os filmes do realizador. Renn é um presidente de uma estação televisiva, o canal 83 da Cabo, e que está sempre na vanguarda dos programas sensacionalistas e chocantes. Quando descobre, através de um sinal pirata, o programa "Videodrome" fica completamente fascinado com a gratificação da violência nele incluído. Estamos a falar de um programa sem enredo e praticamente sem meios de produção, com apenas violência no seu estado mais puro e simplista. A partir daqui envereda numa procura obsessiva por "Videodrome", mas será mesmo este produto um programa de TV? Ou pior ainda, algo real?


Percebe-se pelo parágrafo acima que "Videodrome" é uma forte crítica ao papel que a TV tem assumido nas nossas vidas e que apesar de datar de 83 continua a fazer total sentido e com o mesmo impacto (ou mais até) nos dias de hoje. Mas como escreveu João Palhares aqui, "Videodrome" ainda é mais do que isto.

Max não é o típico herói, se é que é herói de todo, temos aqui um produtor televisivo sedento por sangue, sedento pelo choque. E isso é claro nos programas que procura e no seu discurso quando é entrevistado. É nesse programa que conhece Nicki Brand, interpretada pela mítica vocalista dos Blondie, Deborah Harry. A partir daqui os dois envolvem-se e é em casa de Max que esta acaba por conhecer o famoso "Videodrome". Também ela se envolve no seu fascínio ainda que por razões diferentes. Max quer , qual Messias, revelá-lo ao mundo, ser o seu divulgador, mas, Nicky, quer vivê-lo. As suas paixões são intensas e violentas e a sua cena de sexo com Max são prova disso, naquela que é uma das melhores cenas de sexo jamais filmadas pelo realizador.

Em jeito de conclusão e como já deu para perceber "Videodrome" é quanto a mim uma das obras maiores de Cronemberg, um dos pontos máximos na sua carreira e o meu favorito dos filmes que escolhi. Espero que gostem.



Gabriel Martins (Alternative Prison)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Scanners (1981)


Estava eu a planear esta tertúlia, debruçando-me sobre David Cronemberg, quando acabo por optar pelas palavras "Terror Venéreo" em relação ao tema. Grave erro, "Scanners" de terror venéreo não tem nada, aliás no texto informativo ao tema eu saliento que abordo o terror venéreo e corporal na filmografia do realizador, afinal de contas estão ligados. Mas, porque razão então quando escrevi o título, não coloquei os dois nomes novamente juntos, ou então, só "terror corporal" que engloba tudo? Não sei, talvez porque venéreo atrai mais a atenção, tem mais pinta, enfim, de qualquer das maneiras já está corrigido.

"Scanners" é hoje em dia um dos filmes de maior culto de Cronemberg, tendo vencido o prémio de melhor filme de fantasia internacional na edição do Fantasporto de 1983. A história gira à volta de um grupo de pessoas que é apelidado de Scanners, que se tratam de indivíduos com grandes capacidades telepáticas e telecinéticas. Se perguntarem a qualquer fã deste realizador, para imaginarem uma cena de um dos seus filmes, acredito que a maioria se vá lembrar imediatamente da mítica cabeça a explodir neste "Scanners". Não é que este seja o melhor filme do realizador, para mim não é, mas essa cena é sem dúvida alguma uma das mais marcantes na carreira de David Cronemberg e isso penso ser inegável.

Foi dos filmes mais complicados de realizar, na altura Cronemberg foi "forçado" a iniciar a rodagem com apenas duas semanas de pré-produção, pior, nem o argumento estava completo ainda. Acredito que se tivesse tido mais tempo, o filme ainda seria melhor. E digo isto até mais do ponto de vista narrativo onde teriam mais tempo para desenvolver melhor a história. Ainda assim dentro de todo o caos que parece ter envolvido a produção do filme, é notável o marco que aqui se construiu. "Scanners" foi até a estreia de "The Fly" o seu filme mais rentável, por exemplo.


Stephen Lack, cuja carreira como actor é bastante curta e tendo-se dedicado com mais sucesso à pintura, é Cameron Vale, o protagonista do filme. Quanto a mim Lack não tem uma grande presença no ecrã sendo sempre ultrapassado pelo seu antagonista, o fabuloso Darryl Revok (Michael Ironside) ou o seu mentor, o atormentado Dr. Paul Ruth (Patrick McGoohan). Ainda assim ninguém esquecerá o seu duelo final contra Revok, mais um dos pontos altos de "Scanners".

Espionagem, terror, ficção científica, western; todos estes géneros se encontram em determinado grau neste filme, que é quanto a mim uma das peças mais obrigatórias a conhecer na filmografia de David Cronemberg.

Além deste, existem mais duas sequelas e dois spin-offs, nenhum deste realizador e nenhum que eu tenha visto, sempre tive a sensação que eram completamente desnecessários e apenas um aproveitamento do fenómeno em volta deste trabalho, um pouco como o que aconteceu com "Psycho" de Hitchcock. Claro que posso estar totalmente equivocado.



Gabriel Martins (Alternative Prison)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Shivers (1975)


Nutro uma afeição especial pelo terror claustrofóbico, onde o mote é: "Não há sítio para onde fugir". A ideia de estarmos em perigo e presos numa qualquer localização é absolutamente aterradora, tal como tudo que mexe com a nossa liberdade. Algumas pérolas do género terão de ser o "Alien" de Ridley Scott, pois "no espaço ninguém te consegue ouvir", e o "The Thing" de John Carpenter situado na gélida e desértica Antárctica onde o "Homem é o sítio mais quente para se esconder". Antes destes em 1975 um jovem realizador Canadiano, até então praticamente desconhecido, escreveu e realizou "Shivers" também conhecido por "They Came from Within,". Aqui o espaço e a Antárctica são substituídos por um local mais familiar, um complexo de prédios situado numa ilha no Canadá, e por sua vez as entranhas rebentadas por dentro dão lugar a uma "orgia de parasitas sanguíneos" (o título pelo qual foi filmado).

É precisamente nestes parasitas que o filme de Cronemberg se distingue entre os do seu género. A início a sua investigação era dirigida para substituírem órgãos, porém, a dada altura o médico que os criou privilegiou outro aspecto do corpo humano, a estimulação da libido, tentando colocar assim o Homem em maior contacto com a sua natureza sexual que é constantemente bloqueada ou escondida em prol de valores culturais e morais. O resultado final é uma epidemia de sexo, pois todos os infectados vagueiam pelos diversos andares a tentar fornicar uns com os outros, infectando por sua vez quem lhes aparecer à frente. No fundo em vez de termos o típico grupo de pessoas a infectarem-se e matarem-se umas às outras, como os Zombies, temos um grupo de pessoas a tentar recriar, à força, as cenas em "Eyes Wide Shut", só que sem o glamour das máscaras de Veneza, até porque o glamour de "Shivers" é outro, é sangue e carne.


Também se acaba por sentir um paralelismo em relação ao tema das doenças sexualmente transmissíveis, mais especificamente em relação a esse terrível parasita que é o vírus do HIV, mas que curiosamente só seria descoberto 6 anos após a estreia de "Shivers".

Na altura o jornalista Robert Fulford arrasou o filme que tinha sido financiado pelo estado, mais especificamente pela Telefilm Canada (como é hoje apelidada). O texto de Fulford ostentava como título "You Should Know How Bad This Movie Is, You Paid For It.". Por causa desta crítica severa o realizador foi expulso do seu apartamento e teve maiores dificuldades em encontrar subsídios para os seus projectos futuros. Contudo, como hoje sabemos, não foi nada que Cronemberg não tivesse superado e prova disso é a sua extraordinária carreira.



Gabriel  Martins (Alternative Prison)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Tertúlia de Cinema XIV: O Terror Venéreo/Corporal em David Cronemberg

Em jeito de antecipação para o mais recente projecto de David Cronemberg, "Cosmopolis", a estrear no final de Maio, optei por recordar os primeiros tempos deste realizador e aqueles que para muitos são os seus "anos de ouro", ou seja, a altura em que explorava como poucos o terror venéreo e/ou corporal. É aqui que nasce o seu fascínio pela carne que se tornaria na sua imagem de marca.

Goste-se mais de um período ou de outro, a verdade é que dificilmente se pode dizer que a carreira de Cronemberg não tenha sido sólida. Mesmo os seus mais recentes projectos de onde destaco "A History of Violence" e "Eastern Promisses" são filmes fortes e com uma realização cuidada. São, ainda que muito diferentes dos filmes aqui apresentados, dois grandes Cronemberg's. Com a curta amostra de "Cosmopolis" veio um sabor ao passado do realizador. Será este um regresso à filmografia pela qual ficou conhecido? É esperar para ver e até lá porque não recordar esse passado?




1º Shivers (1975)


Ficha Técnica no imdb


A ter início em 16 de Abril de 2012



2º Scanners (1981) 



Ficha Técnica no imdb


A ter início em 23 de Abril de 2012





3º Videodrome (1983)



Ficha Técnica no imdb 


A ter início em 30 de Abril de 2012





Tertúlia Planeada por Gabriel Martins (Alternative Prison)