quinta-feira, 12 de julho de 2012

The Puffy Chair (2005)


Primeiro filme dos irmãos Duplass e, talvez por isso mesmo, o mais exemplificativo do mumblecore enquanto movimento, “The Puffy Chair” foi a primeira tentativa a sério de Jay e Mark em fazer um filme per say, não surpreendendo, portanto, o facto de se tratar de algo por vezes tão amador e em bruto, amadorismo esse que começaria a reduzir-se nos seus filmes seguintes, em especial “Cyrus” e “Jeff, Who Lives at Home”.

À primeira vista apenas mais uma comédia/drama “indie”, recebida de braços abertos em Sundance, o filme é permeado por uma sensação quase incomodativa de honestidade no que às relações diz respeito, com personagens absurdamente reais. Não obstante todas as suas falhas, este primeiro filme é um exemplo perfeito da força das interpretações, não apenas de Mark mas também dos outros dois actores que o acompanham. Por vezes ignorantes quanto à presença da câmara, os actores são, como em qualquer filme mumblecore, 90% do filme, criando personagens que, mesmo por vezes esterotipadas (o artista, o slacker, etc.), nos soam sempre reais e lembram alguém que certamente conhecemos.

Ao contrário dos tais filmes “indie” que fundem comédia e drama e tão populares se tornaram no início da década passada (pensem em “Garden State”), em que uma personagem, obviamente masculina, conhecia outra, obviamente feminina, que o fazia, miraculosamente, descobrir o sentido da vida, “The Puffy Chair” não vai à procura de sequências perfeitas, momentos transcendentes ou tentativas de humor absurdista. Pelo contrário, mantém-se sempre em território afável e sincero. Há, isso sim, uma quantidade exagerada de indie rock, e no que à música diz respeito o filme aproxima-se, de facto, do de Zach Braff, mas pormenores como a câmara em mão, sequências cruas e iluminação natural afastam-no da estilização e ajudam a criar a ilusão de “autenticidade”.


O filme nunca quebra propriamente nenhuma barreira em relação a “comédias” com foco no romance (não confundir com “comédia romântica”), mas a forma como nos faz identificar com as suas personagens é distinta. Quando o Josh de Mark Duplass segura uma boom box à janela da namorada Emily, percebemos facilmente a piada. E o filme pede-nos que pensemos nos romances cinematográficos com os quais crescemos e, inevitavelmente, comparamos os nossos. Se com Cameron Crowe foi Peter Gabriel a cantar “In Your Eyes”, com os Duplass são os Death Cab for Cutie com “Transatlanticism”, um contraste subtil já que se o primeiro ondulava, os segundos procuram; “I need you so much closer” não é um pedido de intimidade, é o reconhecimento de uma lacuna emocional. E esse reconhecimento é tudo o que Josh lhe pode dar, ouça o que ouvir.

Por mais que gostemos de ver Josh e Emily felizes, os seus problemas manifestam-se em mútuos ataques dolorosos e passivo-agressivos. O pai de Josh aconselha-o que ele sabe tudo o que alguma vez saberá sobre Emily, e que tem que tomar uma decisão baseada no que sabe e não esperar que alguma coisa muito boa ou muito má aconteça. Este conselho, oferecido pelo pai verdadeiro dos Duplass num alpendre pitoresco e tipicamente americano, encoraja-nos a fazer o mesmo em relação ao filme e a nós próprios.


Pedro Ponte (Ante-Cinema)

2 comentários:

  1. O trabalho de Duplass Brothers sempre me pareceu muito interessante e bom, eles são bons gestores e bons atores.

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  2. Os duplass têm histórias muito boas, o que eu mais gostei é o segundo Togetherness temporada. Geralmente eu acho que a programação ea série da HBO não sei sobre você, mas eu acho que é um pouco elitista, tem séries como este que muitas pessoas não entendê-los e leva mais de um capítulo para conseguir pegar a onda, mas os temas são sempre muito divertido, não podemos negar.

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