domingo, 27 de fevereiro de 2011

Tertúlia de Cinema II

Tema: Terror Italiano


1º La maschera del demonio (1960)

Realizador: Mario Bava
Ficha Técnica no IMDB

Trailer:



Sugestão de Snow White

A ter início a 10 de Março de 2011




2º I tre volti della paura (1963)

Realizador: Mario Bava e Salvatore Billitteri
Ficha Técnica no IMDB

Trailer:



Sugestão de João Palhares

A ter início a 21 de Março de 2011




3º Profondo Rosso (1975)

Realizador: Dario Argento
Ficha Técnica no IMDB


Trailer:



Sugestão de Andreia Mandim

A ter início a 30 de Março de 2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Blood Simple


Com a estreia do mais recente filme dos irmãos Coen nas salas de cinema, nada melhor do que revisitar, aqui na tertúlia, o primeiro filme destes dois irmãos, "Blood Simple". Foi tudo pensado de início evidentemente e está longe de ser uma coincidência dos diabos.

Se calhar não me devia alongar tanto sobre a história, mas gostava de salientar alguns pormenores e visto ser uma tertúlia assumo que os que lêem viram o filme e daí não me preocupar com spoilers.

O filme tem início com a fuga de Abby (Frances McDormand) e Ray (John Getz) um empregado de um bar. As coisas nunca são fáceis com os Coen e por isso mesmo o dono desse bar, um tal de Marty (Dan Hedaya), só podia mesmo ser o marido de Abby.
Marty desconfiado destes dois tinha previamente contratado um detective privado, Loren Visser (M. Emmet Walsh), que lhe traz todas as provas de que ele precisava, para confirmar as suas suspeitas.

A premissa é como a de muitos outros. Uma traição, um marido enfurecido e o desejo por vingança. Até aqui tudo normal e bastante cliché, mas estes são os Coen e rapidamente o enredo envereda por caminhos traiçoeiros.

Que Marty não seria capaz de superar a traição, não surgirá como uma surpresa, e daí a planear o homicídio da mulher e do amante são três passos (ou mesmo um).
Para esta tarefa volta a contactar Loren Visser. E é aqui que as coisas começam a ficar interessantes.
Visser começa a elaborar um plano mais seguro para si. Porquê arriscar-se a matar o novo casal quando pode matar Marty, ficar com o dinheiro e tornar-se o único nesta história a saber dos planos originais? Claro que não deixa de haver um homicídio por isso ainda falta atar essa ponta solta. O que é bastante fácil quando existe um casal de adúlteros cuja vida tem sido infernizada por Marty. Assim Visser rouba a pistola de Abby usando-a para matar Marty e assim a incriminar. Temos um plano na teoria perfeito, mas na prática as coisas nunca acontecem exactamente como planeámos inicialmente.


Uma das minhas sequências predilectas do filme começou quando Ray encontrou o corpo de Marty ao regressar ao bar. Todos nós temos uma espécie de bússola de moralidade. Quando Sam encontra o corpo alvejado e reconhece a arma de Abby, assume instantaneamente que a mulher que ama, acabou de matar o marido.
A questão que se coloca agora: O que fazer? O que é que cada um de nós faria nesta situação? Ray fez o que muitos apaixonados fariam. Encobriu o crime.
A cereja no topo do bolo surge quando Marty surpreendentemente acorda a meio do caminho. Afinal este não estava exactamente morto (lembrem-se de verificar sempre o pulso). E aqui é que a bússola dispara. Este é o problema de pisarmos certas linhas, por muito pouco que a tenhamos atravessado, depois de o termos feito não há volta a dar.
Uma coisa era ocultar um crime outra, completamente diferente, é cometê-lo. Mas Ray já pisou a linha, para ele é tarde demais.
A partir daqui nunca mais será o mesmo. Com a morte de Marty também uma parte de si morre no final da cena.

Depois seguem-se as paranóias. Ray não consegue dormir e começa a assustar Abby. A dada altura a presença de Marty começa a fazer-se sentir. Estará vivo afinal, será possível?

Saliento ainda a cena final entre Abby e o detective Visser que está carregada de tensão e é realmente muito boa. A mão do detective presa na janela por uma faca, foi absolutamente deliciosa e a sua gargalhada no fim, mesmo quando tudo estava perdido demonstra bem o tipo de criatura que este era.


"Blood Simple" tem claramente elementos noir, um complot bizarro, a perspectiva do criminoso, uma "femme Fatale" e lealdades instáveis. É obviamente um filme bastante diferente dos clássicos do género, uma versão mais moderna do noir que muitos apelidam de neo-noir.

É de salientar também a banda sonora de Carter Burwell, o tema principal do filme encaixa perfeitamente no ambiente noir do filme. Uma pareceria vitoriosa e por isso não é de estranhar que Burwell voltasse a trabalhar com os Coen.

Acho que é sempre de valor conhecermos o início de carreira dos realizadores que gostamos. Olhando para este "Blood Simple" e para um "No Country For Old Men", por exemplo, podemos ver que os Coen percorreram um grande caminho entretanto e no entanto a imagem de marca dos autores mantém-se, há uma alma nos seus filmes que os faz serem rapidamente reconhecidos, e são na minha opinião dois dos seus melhores trabalhos.

Gabriel Martins / Alternative Prison

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Le samouraï


«Não há maior solidão que a de um samurai, excepto talvez a de um tigre na selva…»

Com esta enigmática frase, supostamente extraída do ‘Livro do Samurai’ mas escrita pelo próprio Melville, o filme apresenta-nos Jef Costello (Alain Delon), assassino profissional que segue uma rígida conduta de actuação. Mas durante a execução do seu mais recente “trabalho”, Jef não se revela tão prudente e vê-se freneticamente perseguido, tanto pela polícia como pelos homens que o contrataram, numa fuga que culminará num surpreendente enlace…

É difícil encontrar outro argumento, na História do Cinema, que tenha sido tão bem filmado como o de LE SAMOURAÏ (o qual viria a ser revisitado pelo próprio Melville em filmes posteriores e inspirou cineastas como Jim Jarmusch ou John Woo). No seu estatuto de eficiente objecto cinematográfico, possui todas as virtudes de um noir Americano mas com vincada sensibilidade europeia, a qual tornaria alguns dos seus elementos demasiado melodramáticos, talvez até pretensiosos, para um filme de Hollywood.


Em LE SAMOURAÏ, Paris metamorfoseia-se na “Cidade das Sombras”, cenário e ambiente ideais para inesquecíveis sequências de acção contida (como a perseguição pelo metropolitano parisiense), parcas em diálogos e levadas a cabo por um protagonista soturno que possibilitou a Alain Delon o melhor desempenho da sua carreira.

Título austero, romântico, inquietante e intemporal do film noir Europeu — para o deleite assegurado de todos os que seguem a presente iniciativa do Tertúlia do Cinema.

Samuel Andrade / Keyzer Soze’s Place

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sugestões de Temas - Sondagem

Coloquei do lado direito uma sondagem com os temas sugeridos pelos participantes da Tertúlia.
Pedia agora para votarem nos vossos preferidos.

Há temas muito gerais, mas que posteriormente serão especificados pelo grupo em questão. Por exemplo no caso de biopics, as pessoas responsáveis pelo tema irão optar se são biopics de escritores, músicos, pintores, etc. O mesmo se aplica a todos os temas mais gerais, como comédia e animação.

Como não chegaram a ser especificados nas sugestões, deixei em aberto.

Se votarem na opção "Outro" deixem a sugestão na caixa de comentários.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

They Live By Night


"Cinema is Nicholas Ray” - Godard sobre Nicholas Ray

They Live by Night foi um filme importantíssimo, na medida em que inspirou meio mundo. O cinema de hoje deve-lhe alguma coisa, os próprios jovens dos Cahiers lhe devem muito.
O seu cinema não seria o mesmo se não tivesse existido o autor americano. Pego no primeiro plano do filme, talvez numa das mais belas aberturas de sempre “This boy... and this girl... were never properly introduced to the world we live in... To tell their story...” Para logo surgir o título They Live by Night.”.
De uma mistura de pureza, inocência e felicidade para um carro em velocidade. Filmado de um helicópetero, a câmera aproxima-se vêem-se três indivíduos. Acabou-se a inocência, quando mais tarde vimos a saber que são três crimonosos em fuga.
They Live by Night é um filme vibrante, é um noir sim, mas é também um romance, ou um road movie. Sim, um dos mais belos road movies alguma vez feitos. Bowie é mais um dos rebeldes que Nicholas Ray trouxe para o grande ecrã que sofreu o seu expoente com James Dean em Rebel Without a Cause.
Bowie é um inadaptado, que procura o seu lugar no mundo. 23 anos, 7 deles passados atrás das grades. Uma capacidade de amar enorme, correspondido por Keechie. É curioso seguir o percurso de ambos. No incício tudo parece um retrato adolescente, para mais tarde perderem a inocência. Não existiria mais forma de escapar e o filme caminhava a paços largos para a tragédia final. Keechie não é a típica femme fatale dos noir. Mas é o único ponto que se distancia deste género. Temos um crime e a perspectiva é vista através dos actos dos criminosos. E uma das maiores qualidades do filme é explorar os dois personagens principais, a sua ligação, o seu contacto, troca de olhares e palavras. No final, temos um filme ambicioso, uma montra para o resto da carreira de Ray, e uma das melhores entradas no mundo do cinema. Um filme sobre coragem, esperança, e também sobre o amor. Amor jovem e inocente.

João Gonçalves / Voices of a Distant Star

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Film Noir

Não existe outro género tão tipicamente americano como o Film Noir. Film Noir é o outro lado da história de sucesso americana. É sobre as pessoas que percebem que seguir as regras raramente as vai levar a lugar algum. Então, elas cruzam a linha, cometem um crime e sofrem as consequências. No fim sofrem sempre as consequências.
O período de ouro do film noir registou-se no pós-Segunda Guerra Mundial, quando os americanos regressavam da frente de combate, e a sua mentalidade, e a do resto do mundo, estava muito abatida psicológicamente e bastante pessimista pelo desgaste da guerra. Na altura não se falava em "film noir", mas sim "thrillers de crime" ou "dramas de assassinatos", e a expressão só viria a tomar corpo anos mais tarde, quando um grupo de críticos franceses resolveu apelidá-los deste modo: film noir. O típico film noir assentava em diversos pontos:
- Produzido nos Estados Unidos
- Realizado no período de 1940 a 1959
- Filmado a preto e branco
Mas o movimento era tão grande, que o género prolongou-se até aos dias de hoje, e a diferentes países, desde França a Inglaterra, e até mesmo em Portugal, com o conhecido "O Lugar do Morto", de António-Pedro Vasconcelos.
A estética do film noir é também fortemente influenciada pelo Expressionismo Alemão. Sob a forte influência do Nazismo, muitos realizadores importantes foram obrigados a emigrar (incluindo Fritz Lang, Billy Wilder e Robert Siodmak) para os Estados Unidos. Eles levaram na bagagem técnicas que desenvolveram (principalmente a iluminação e o ponto-de-vista subjectivo e psicológico) e fizeram alguns dos mais famosos films noirs nos Estados Unidos.

Há sete elementos de um filme noir que Raymond Borde e Etienne Chauteton apontaram em Panorama du Film Americain. São eles:
- um crime;
- a perspectiva dos criminosos, não da polícia;
- uma visão invertida das tradicionais fontes de autoridade, tal como a corrupção policial;
- alianças e lealdades instáveis;
- a "femme fatale" (mulher fatal): a mulher que causa a ruína e/ou morte de um bom homem;
- violência bruta;
- motivação e mudanças em complots bizarros.

Claro que o film noir não necessita de obedecer necessariamente a todas estas características, mas normalmente podia-se encontrar a maioria nos seus filmes.

Para terminar, não vou falar em filmes, senão nunca mais daqui saía. Mas aconselho-vos a verem este pequeno documentário antes de mergulharem neste mundo das trevas, sob o perigo de não mais de lá saírem.

Chico / My One Thousand Movies